segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Quentes e boas!

A propósito do outono, do S. Martinho e das castanhas transcrevemos um belíssimo poema de Matilde Rosa Araújo, retirado lo livro: "O Cantar de Tila"
 
CASTANHAS
- Quentes e boas!
- Quentes e boas!
Lá vem o camboio coxinho a deitar tanto fumo!
- Só dez!
Dez num funil de jornal velho.
Tão quentes! Tão boas! E está tanto frio...
- Quanto é?
- Cinco tostões...
O vendedor sacode ambas as mãos enfarruscadas, dando palmas.
Eu estendo-lhe a moeda com a mão direita,
A esquerda segurando no funil a ternura quente das castanhas.
Olhamo-nos, um instante, cinzentos através do fumo.
- Obrigado!
- Obrigada!
Ele parte empurrando o comboio coxinho.
- Quentes e boas!
- Quentes e boas!
Mas o seu rosto cinzento fica mais triste no ar cheio de fumo.
Sem partir.
 
 
Matilde Rosa Araújo
(1921 - 2012)

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